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Nova série do Canal Brasil, a ser distribuída também pelo GloboPlay, “Hit Parade” resgata os anos 1980, mas foi feita recentemente. O público é bem capaz de se confundir e achar que está diante de uma produção antiga: embora a textura de imagem seja claramente atual, toda a concepção de iluminação e edição –além do figurino e do enredo em si, claro–, é pautada pelo padrão audiovisual da época.
A percepção é reforçada pela presença no Canal Brasil, emissora que reverencia o acervo do cinema nacional de décadas passadas. Esse contraste entre ontem e hoje é a genialidade de “Hit Parade”, causando efeito de um quase alucinógeno na plateia.
Para tanto, é preciso sublinhar que a indústria musical da época era um “covil de talentosos oportunistas”, como diz o jornalista, diretor e roteirista André Barcinski, criador da série.
Dirigida por Marcelo Caetano, o enredo nos conduz a um passado relativamente recente, mas que se tornou absolutamente longínquo em razão da evolução tecnológica, mas não só isso.
Como seria possível hoje, com livre acesso ao Google e a produções do mundo todo, fraudar o rosto de um cantor internacional ou plagiar criações conhecidas apenas em outros países?
Como, até o início dos anos 2000, seria possível ouvir uma lista de músicas da nossa preferência, sem registrar a sua playlist em uma modesta fita k-7?
Visitar aquele universo é um choque, e digo isso após assistir aos oito episódios da nova produção. Esqueça a dinâmica do videoclipe instaurada a partir da década seguinte pela MTV Brasil e, mais ainda, os hábitos trazidos pelo YouTube, e depois por Spotify e companhia.
Na era pré-streaming, o jabaculê corria solto no mundo radiofônico. Não que essa prática tenha sido completamente extinta, mas a força do rádio como propulsor de sucesso era infinitamente maior. Aquilo era ponto único de partida para chegar à TV, que tampouco recusava recompensas para mirar suas câmeras a quem mendigava holofotes. Conseguir uma faixa em trilha sonora de novela, então, era passaporte para a glória máxima. Mas essa indústria também se deslumbrava diante de fraudes impensáveis e “Hit Parade” debocha do showbiz com elegância.
A normalização do pó branco aspirada em qualquer lugar também aparece bastante em cena, de modo que os personagens, aqui e ali, estão sempre a dar um tapa na cocaína como gesto muito corriqueiro naquele universo.
Algumas cenas se arrastam para além do que hoje julgamos necessário, como as apresentações musicais, mas de novo, isso orna com o contexto ali retratado.
São sequências como a do programa do Lobinho (Odilon Esteves), onde Maria Alcina faz uma adorável participação como jurada. Quem nunca viu o Show de Calouros dos tempos de Pedro de Lara ou o Chacrinha nos idos de Elke Maravilha pode até achar que há uma lente de aumento para retratar esses tipos quase circenses em “Hit Parede”, mas não é bem assim. Tudo ali traduz o exagero da década.
Outra participação gloriosa é Ovelha, o cantor que fez sucesso naqueles tempos, e Edy Star. O elenco sublinha a presença de Bárbara Colen, atriz de “Bacurau”, que também está em “Onde Está o Meu Coração?”, lançada recentemente pelo GloboPlay.
O foco da narrativa é Simão (Tulio Starling), um cantor idealista que canta na noite e tenta um lugar ao sol da fama, mas não alcança. Com contas a pagar, ele se rende à proposta do produtor Missiê Jack (Robert Frank), que o convida a criar sucessos fáceis para um cantor brega, Ivanhoé, papel de Edy Star. A música bomba nas paradas musicais, mas a parceria entre Simão e Jack acaba quando o segundo se apropria de uma música sua.
Simão decide abrir sua própria gravadora, a Sensacional Discos, e a partir daí teremos o descortinar de grandes trapaças no universo fonográfico brasileiro, sob o enquadramento da TV e do rádio, um circuito propício para a criação de personagens dignos do hiperbólico cenário real da década de 80.
“Hit Parade” tem criação de André Barcinski, que assina também o roteiro, ao lado de Ricardo Grynszpan, sob direção de Marcelo Caetano. A produção é da Kuarup, gravadora criada em 1977, que, hoje, atua também no audiovisual. Ou seja, estamos em casa.
Como a trilha sonora aqui é item protagonista, as canções configuram expediente feito sob encomenda. Há composições originais compostas por novos nomes da música brasileira e por Hélio Costa Manso, que foi diretor das gravadoras RG e Som Livre nos anos 80 e fez sucesso como o falso gringo Steve Maclean. Dos novos créditos, os produtores pedem atenção às músicas Maria Beraldo, Bemti, Caê Rolfsen e Leo Versolato, que revisitam o pop oitentista com os olhos de hoje.
Mas hits reais dos anos 80 também entrarão em cena, de “Feiticeira” a “Porto Solidão”, gravada por Jessé.
A série é indicada para maiores de 16 anos. Estreia nesta sexta (21), no Canal Brasil, tendo na sequência os demais sete episódios disponíveis no GloboPlay. O primeiro capítulo ficará disponível na plataforma por uma semana, a não assinantes.
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