No sétimo dia de confrontos entre Israel e Hamas, ataques aéreos israelenses na madrugada deste domingo (16) mataram 33 pessoas, incluindo 13 crianças, de acordo com autoridades de saúde de Gaza. Trata-se da ação mais letal desde que o conflito estourou, há quase uma semana.
Do outro lado, militantes palestinos dispararam foguetes contra Israel, no que o Exército do país diz ser a onda mais intensa de lançamentos de projéteis já realizada contra seu território. Agora, o número de mortos em Gaza, desde o início dos combates, chegou a 181, incluindo 52 crianças. Em Israel, 10 pessoas, entre as quais duas crianças, foram mortas em disparos de foguetes pelo Hamas e outros grupos radicais.
Sem nenhum sinal do fim da pior escalada de violência entre israelenses e palestinos desde 2014, o Conselho de Segurança das Nações Unidas deve se reunir neste domingo para discutir a situação.
Tanto Israel quanto o Hamas, o grupo islâmico que comanda a Faixa de Gaza, afirmaram que continuariam com os confrontos na fronteira depois de o Exército israelense destruir, no sábado (15), um prédio que abrigava as operações da agência americana de notícias Associated Press e da TV qatari Al Jazeera.
Após grande repercussão internacional e críticas dos EUA, os militares israelenses defenderam que a torre Jala era um alvo militar legítimo porque haveria escritórios militares do Hamas no local. As Forças Armadas também destacaram o fato de terem alertado os civis antes da ação para forçar uma evacuação.
Em um comunicado, a Associated Press condenou o ataque e pediu a Israel que apresentasse provas de que havia operações ou atuação do Hamas no edifício. Em represália pela destruição do prédio, a facção islâmica disparou 120 foguetes durante a noite, segundo os militares israelenses, mas muitos deles foram interceptados, e cerca de uma dúzia caiu dentro de Gaza.
Ainda assim, israelenses correram para abrigos antiaéreos após sirenes alertarem para o lançamento de foguetes em Tel Aviv e na cidade de Beersheba, no sul do país. Cerca de dez pessoas ficaram feridas enquanto corriam para os locais de proteção, de acordo com médicos de Israel.
Em uma onda de ataques aéreos na manhã de domingo, os militares israelenses disseram ter atingido, na cidade de Khan Younis, a casa de Yehya Al-Sinwar, que lidera as alas político e militar do Hamas em Gaza.
Palestinos que tentavam remover os destroços de um prédio colapsado pelas ofensivas israelenses recuperaram os corpos de uma mulher e de um homem. “São momentos de horror que ninguém pode descrever. Como um terremoto”, disse Mahmoud Hmaid, pai de sete filhos que ajudava no resgate.
Do outro lado da fronteira, na cidade israelense de Ashkelon, Zvi Daphna, um médico cujo bairro foi atingido por vários foguetes, descreveu um sentimento de “medo e horror”. O gabinete de segurança de Israel deve se reunir neste domingo para discutir a situação —não há, no horizonte próximo, sinais de que o conflito vá arrefecer. Em discurso na TV na noite de sábado, o premiê Binyamin Netanyahu disse que Israel ainda estava “no meio da operação” e que ela “continuará enquanto for necessário.”
O Hamas iniciou os atuais confrontos no dia 10, após semanas de tensão em torno de um processo judicial para despejar quatro famílias palestinas em Jerusalém Oriental e em retaliação aos confrontos entre a polícia israelense e palestinos na mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do islã.
Israel reivindica toda Jerusalém como sua capital, um status geralmente não reconhecido por grande parte da comunidade internacional, enquanto os palestinos querem Jerusalém Oriental —capturada pelos israelenses na Guerra dos Seis Dias, em 1967— como a capital de um futuro estado.
O Hamas, a Jihad Islâmica e outros grupos dispararam cerca de 3.000 foguetes a partir de Gaza desde o começo da atual fase do conflito, afirmou o Exército israelense na manhã deste domingo. Israel, por sua vez, lançou mais de 1.000 ataques aéreos e de artilharia contra a densamente povoada faixa costeira.
Em um comunicado, o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, lembrou a todos os lados no sábado que “qualquer ataque indiscriminado a civis e estruturas da imprensa viola a lei internacional e deve ser evitado a todo custo”. A declaração de Guterres, assim como as ações de diplomacia dos EUA e do Egito, tem sido um esforço estéril para conter a violência dos últimos dias.
Hady Amr, enviado dos EUA, chegou a Israel na sexta-feira para negociações, e o presidente americano, Joe Biden, telefonou na noite de sábado tanto para Netanyahu quanto para o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, mas qualquer mediação é complicada pelo fato de os EUA e a maioria das potências ocidentais se recusarem a dialogar com o Hamas, que consideram uma organização terrorista. Abbas, que pertence ao Fatah, rival do grupo radical islâmico, tem sua base na Cisjordânia ocupada, exercendo pouca ou nenhuma influência em Gaza.
Em Israel, o conflito foi acompanhado de violência entre as comunidades mistas de judeus e árabes do país, com sinagogas atacadas, e lojas de propriedade de árabes e judeus, vandalizadas. Também houve um aumento de confrontos na Cisjordânia ocupada. Ali, ao menos 15 palestinos foram mortos por tropas israelenses desde sexta-feira, a maioria dos quais durante confrontos.