Impulsionada pela coragem, Guilhermina Soulié Franco do Amaral viveu à frente do tempo. Sua história começa em Ribeirão Preto (a 313 km de SP), onde nasceu.
Filha de um agropecuarista, tinha nove irmãos. De instinto protetor, ajudou a criar os mais novos. Quando ainda era criança, a família mudou-se para Lins (a 431 km de SP).
Aos 17 anos casou-se com Aureliano Rezende de Andrade, 22 anos mais velho.
Diferente das moças da época, aos 35 anos e com seis filhos, encarou uma faculdade de Odontologia. Logo que se formou, desquitou-se do marido.
Guilhermina aceitou uma proposta de trabalho e integrou o projeto Rondon, no Pará, para prestar atendimento comunitário aos índios. Apaixonada pelo local, instalou-se em Belém com quatro dos seis filhos e uma neta, abriu um consultório e virou referência na cidade.
Após cerca de seis anos, voltou para o estado de São Paulo, agora na capital. Prestou concurso para o Inamps (atual INSS), virou chefe dos dentistas e lá aposentou-se.
Guilhermina se casou novamente. Para acompanhar Francesco Scerca foi morar nos EUA mesmo sem pronunciar uma palavra em inglês. Permaneceu em terras americanas até a morte de Francesco. Depois, dividiu seu tempo entre os EUA e o Brasil, já que amava viajar.
A dose extra de coragem não foi útil apenas nas mudanças de vida. Em sua trajetória também houve dissabores, pois perdeu dois filhos.
Guilhermina era a doçura em pessoa, alegre e afetiva. Espalhou amor e conquistou amigos por onde passou.
“Ela cativava as pessoas e alimentava o amor por elas. Tinha sempre um gesto de carinho e adorava dar presentes”, conta o advogado Reinaldo Amaral de Andrade, 60, seu filho caçula.
Guilhermina morreu dia 6 de maio, aos 86 anos, por complicações de Covid-19. Viúva, deixa quatro filhos, netos e bisnetos.
“Presente perante à família, nos ensinou a união e mostrou ser corajosa para mudar a própria vida e buscar a felicidade. Não tinha medo de mudanças”, diz Reinaldo.