As ações de Wall Street estão a caminho de se unir à queda mundial do mercado de ações acontecida na última terça-feira (4), e as empresas de tecnologia sofreram um novo baque por conta das preocupações de que a alta na inflação levará os bancos centrais a apertar a política monetária.
O índice europeu Stoxx 600 caiu em 2,3%, e os mercados da França e da Alemanha revelam queda por igual margem. O FTSE 100, de Londres, caiu em 2,4%. As operações de mercado futuro indicaram que um índice formado pelas 100 maiores ações do índice composto Nasdaq, no qual a tecnologia tem peso alto, cairá em 1,4% quando o pregão se abrir, depois de fechar a sessão da segunda-feira (10) em queda de 2,6%.
As ações de tecnologia encararam sua onda de vendas mais pesada na Europa, na terça, com o índice de tecnologia Stoxx 600 em queda de 2,3%. Todos os demais grandes setores também sofreram queda ao longo do dia, de acordo com dados da Refinitiv.
O Vix, um índice que acompanha a volatilidade prevista no índice S&P 500 e é conhecido como “metro do medo” em Wall Street, subiu a uma marca de quase 22 pontos, a mais alta desde o final de março.
Nas últimas semanas, cresceu a preocupação dos investidores de que uma ampla recuperação nas economias mundiais e os aumentos no custo de muitas matérias-primas promovam uma elevação forte nos preços pagos pelos consumidores e empresas.
Isso gerou temores de que o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, reduza suas aquisições mensais de US$ 200 bilhões em ativos, que estimularam os mercados de ações durante a pandemia, em ritmo mais rápido do que o planejado até agora, o que deixaria as ações mais valorizadas, como as das grandes empresas de tecnologia, mais vulneráveis a uma correção.
“A inflação está criando muito medo entre os investidores por conta da possibilidade de que os bancos centrais não estejam preparados para enfrentá-la”, disse Aneeka Gupta, diretora de pesquisa da WisdomTree, que acrescentou esperar uma alta duradoura nos preços, em oposição a aumentos “transitórios”.
Jay Powell, o chairman do Fed, disse que o banco central americano tolerará altas temporárias de preços, a fim de ajudar a recuperação econômica.
A taxa de “break-even” de cinco anos nos Estados Unidos, um indicador importante sobre as expectativas de crescimento de preço no mercado, chegou a 2.733% na terça-feira, o que a aproxima de seu mais alto nível de fechamento desde 2006, de acordo com dados da Bloomberg.
Enquanto isso, as menções a “inflação” nas conversas entre executivos e analistas de Wall Street nos anúncios de resultados de companhias chegaram a um total próximo do recorde estabelecido uma década atrás, e muitas empresas pretendem repassar o aumento de custos aos consumidores via aumento de preços, de acordo com o Bank of America.
O espectro de pressões de custos foi amplificado na terça-feira por dados que mostram que os preços na porta da fábrica, na China, um indicador do que os consumidores individuais e os importadores do Ocidente pagarão por produtos, subiram em 6,8%, seu aumento mais forte em três anos, no mês passado, ante os números do período um ano atrás.
O crescimento de preços está sendo alimentado pela escassez mundial de chips, pelo boom no preço das commodities —do minério de ferro, essencial para o aço, à madeira—, e pela recuperação rápida das maiores economias mundiais.
O rendimento sobre o título de 10 anos do Tesouro dos Estados Unidos, a referência do mercado, não mudou muito, e estava em 1,606% na terça-feira. Mas isso representa uma alta ante a marca de 0,9% que ele detinha no começo do ano, e os operadores parecem estar apostando em uma tendência inflacionária em prazo mais longo, que erodiria os retornos sobre títulos de renda fixa como esse.
Um rendimento mais alto nos títulos do Tesouro também prejudica o fluxo de caixa futuro das empresas, algo que afeta especialmente as ações da tecnologia e outras áreas de negócio em crescimento, cujos lucros podem demorar décadas para chegar a um pico.
Um movimento forte de abandono dessas ações já levou o fundo Ark Innovation, de Cathie Wood, a cair em cerca de um terço ante o pico registrado em fevereiro. As ações da carteira do Ark, como as da Tesla, que puxaram a alta das grandes ações de tecnologia no ano passado, sofreram uma retração acentuada.
Nem todos os analistas estão pessimistas com relação às ações e à inflação.
“Acreditamos que o medo de inflação é exagerado, e que boa parte dele será transitório”, disse Fahad Kamal, vice-presidente de investimento do banco de capital fechado Kleinwort Hambros. “O quadro econômico é robusto, o que se traduz em lucros recorde para as companhias”.
Na Ásia, o índice Hang Seng, da bolsa de Hong Kong, fechou em queda de mais de 2%, e o Nikkei 225, do Japão, encerrou a sessão de Tóquio com baixa de mais de 3%.