Automóveis capazes de rodar sem a intervenção constante de um motorista despertam a atenção para problemas comuns no Brasil. Como o carro autônomo reagiria diante de um buraco no asfalto, de uma valeta ou de um bueiro aberto?
A solução para essas questões é tão tecnológica quanto os veículos.
Alexandre Vargha, pesquisador da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e presidente da Abinc (Associação Brasileira de Internet das Coisas), diz que, assim como sensores já podem detectar pedestres e ciclistas para evitar atropelamentos, há soluções capazes de reconhecer o desgaste do asfalto à frente e adaptar o carro às condições de rodagem.
Um exemplo está no sonar instalado no sedã de alto luxo Mercedes Classe S desde o modelo 2014. O item “lê” a pista para adequar a suspensão às irregularidades. O mesmo princípio pode ser adotado para evitar acidentes.
Existem também soluções para prevenir problemas. Vargha acompanhou o estudo feito pelo Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos EUA, que desenvolveu um equipamento capaz de verificar as condições das vias em tempo real.
Os engenheiros utilizaram um sistema a laser que detecta rachaduras, sulcos e outros defeitos de pavimentação escondidos nas rodovias. As informações são catalogadas por meio da inteligência artificial, com imagens geradas em 3D. Com isso é possível antecipar os reparos, evitando o surgimento de danos mais graves.
Entusiasta da automação automotiva, o pesquisador brasileiro acredita que, até 2030, um em cada 10 veículos no mundo será autônomo. O cálculo foi feito pelo portal Statista, especializado em pesquisa de mercado.
O ganho está na segurança e na fluidez: se o carro “conversa” com as placas nas cidades e com outros automóveis enquanto acelera, freia e faz curvas, o risco de acidentes é reduzido.
Trata-se de um cenário ainda distante da realidade, mas os avanços rumo à utópica automação plena já proporcionam melhora na segurança viária.
Pelo interesse do consumidor por novas tecnologias e para obter melhores notas em segurança, as montadoras têm apostado em recursos como sistemas de frenagem automática, sensores que mantêm o carro em sua pista e assistentes que comandam as manobras de estacionamento. Tais itens estão presentes em alguns veículos nacionais e devem se massificar.
Contudo os recursos disponíveis podem se tornar perigosos pelo mau uso. É o que ocorre quando o motorista tira as mãos do volante e, além de infringir regras de trânsito, não considera os limites das tecnologias existentes hoje.
Esse é um ponto que trava o desenvolvimento dos veículos autônomos: de quem é a responsabilidade caso ocorra um acidente? Ocorrências graves podem acabar com a reputação de uma empresa.
Mas trata-se de um processo de evolução contínua que será acelerado após o estabelecimento da rede 5G de telefonia, com maior velocidade no tráfego de dados.
Vargha diz que, no Brasil, a utilização de veículos autônomos nas estradas deverá se consolidar entre 2030 e 2035. O uso urbano tem chances de se popularizar em 15 ou 20 anos, apesar dos buracos.